As iniciações constituem uma das partes fundamentais do vajrayana. Com efeito, este baseia-se na utilização de uma força espiritual — a graça, a bênção, a influência espiritual, qualquer que seja o termo utilizado para traduzir o tibetano jinlap ou o sânscrito adhisthana — da qual o mestre é o depositário e da qual o discípulo retirará proveito principalmente pela prática dos yidams e a recitação de seus mantras. Para que essa força e seu vetor — o yidam — possam ser transmitidos do mestre para o discípulo, uma cerimônia particular é necessária: a iniciação.Como a tradição tibetana reúne um número muito grande de yidams, as iniciações são também muito numerosas e muito variadas, sem que isso altere a unidade essencial da graça, assim como a água pura pode ser apresentada e bebida em recipientes muito diversos. No capítulo referente aos princípios do vajrayana, o tema das iniciações já foi abordado. Aqui é retomado com muito mais detalhes, completado por uma importante exposição sobre os engajamentos que decorrem dessa iniciação, engajamentos que são eles próprios colocados no contexto geral dos votos.
As iniciações — um investimento sagradoA noção de iniciação implica a idéia de outorgar um poder, uma autoridade.
No domínio político, os chefes de Estado, os ministros, ou outras pessoas do Estado ocupam postos de responsabilidade que lhes confere uma certa autoridade. Para que sejam detentores do poder, é preciso inicialmente, entretanto, que eles tenham sido investidos dele, ou seja, segundo as culturas, que tenham sido nomeados, eleitos ou entronizados. Quando se trata, por exemplo, de uma coroação, o futuro rei será colocado num trono em presença de um grande número de dignatários, receberá as diferentes insígnias da realeza e, a partir desse momento, ele se tornará o verdadeiro chefe de seu reino. Somente após essa investidura, dispõe de uma autoridade que lhe permite dirigir, dar ordens e ser obedecido por todos. De modo similar, uma iniciação — incluindo as subdivisões que são a iniciação do vaso, a iniciação secreta, a iniciação do conhecimento-sabedoria e a iniciação oral — confere àquele que a recebe um poder sobre a prática da meditação.
Iniciação do vasoA primeira subdivisão no interior do processo de iniciação é "a iniciação do vaso", conferida ao corpo. Ela implica uma relação com diferentes divindades, principalmente os cinco Buddhas Patriarcas, os cinco Buddhas femininos e diferentes grupos de bodhisattvas masculinos e femininos. Por conta desta relação, ela confere o poder de meditar nos aspectos impuros do indivíduo e do universo sob sua forma pura, que correspondem às divindades, e de realizá-los como tais.
Assim, os cinco agregados — formas, sensações, percepções, volições, consciências — nada mais são do que o reflexo, na pessoa ordinária, dos cinco Buddhas Patriarcas no domínio do Despertar. A iniciação do vaso introduz-se na essência divina dos cinco agregados e conferem-nos o poder de realizá-la com base numa equivalência entre cada agregado e cada Buddha:
formas: Vairochana; sensações: Ratnasambhava; percepções: Amitabha; volições: Amoghasiddhi; consciências: Akshobhya. Da mesma maneira, estabelece-se uma equivalência entre os cinco elementos e sua essência, os cinco Buddhas femininos, aos quais a iniciação serve de introdução:
terra: Buddhalocana; água: Mamaki; fogo: Pandaravasini; ar: Samayatara; espaço: Vajradhatvesvari. Em terceiro lugar, as oito consciências — visual, auditiva, olfativa, gustativa, tátil e mental, às quais se acrescentam a consciência perturbada e o potencial de consciência (sânsc. alayavijnana) — são percebidas como os oito grandes bodhisattvas masculinos, e os objetos das consciências são percebidos como os oito grandes bodhisattvas femininos.
Assim, todos os componentes psico-físicos da pessoa são consagrados enquanto divindades e o discípulo recebe o poder de meditar sobre si mesmo sob a forma do corpo da divindade da iniciação. Este processo constitui "a iniciação do vaso", chamada também "iniciação do corpo" da divindade, em relação aos canais sutis (sânsc. nadis), permitindo atualizar, numa perspectiva última, o corpo de emanação.
Iniciação secretaNos canais sutis do corpo circula a energia sutil (sânsc. prana) que está ligada à palavra e cuja expressão totalmente pura corresponde ao corpo de glória (sânsc. sambhogakaya). Para realizar essa pureza, é conferida "a iniciação secreta", também chamada "iniciação da palavra" da divindade, graças à qual todos os ventos sutis impuros são transformados em ventos puros.
Para efetuar essa purificação, serão utilizados os exercícios sobre os ventos e a recitação de mantras. De fato, com essa iniciação secreta o discípulo recebe o poder de considerar todos os sons como o mantra da divindade. É preciso saber que o corpo é inervado por uma rede de 72 mil nadis, cujos três principais são o canal central e os canais laterais que o ladeiam à direita e à esquerda. A terminação de cada um desses canais apresenta uma configuração associada às trinta consoantes e às dezesseis vogais do alfabeto sânscrito e forma a base a partir da qual a palavra pode funcionar. Quando a iniciação secreta é conferida, é dada portanto, em razão da relação entre ventos sutis, palavra e sambhogakaya, a faculdade de atualizar a palavra-vajra do sambhogakaya.
Iniciação de conhecimento-sabedoriaEm terceiro lugar é conferida à mente do discípulo a iniciação da mente da divindade ou "iniciação de conhecimento-sabedoria". Essa terceira iniciação está ligada aos thigles (sct. bindu) e confere o poder de colocar em ação as técnicas de meditação onde esses thigles são utilizados.
Conseqüentemente, uma vez recebidas a iniciação do vaso, a iniciação secreta e a iniciação de conhecimento-sabedoria, torna-se possível colocar em prática os "seis dharmas de Naropa" — tummo, corpo ilusório, sonho, clara luz, transferência de consciência e bardo — no curso dos quais medita-se sobre os canais, os ventos e os thigles. Isto também abre a possibilidade, em alguns casos, de praticar, no contexto do vajrayana, as técnicas de retenção dos thigles na união sexual.
Para resumir, vimos até o momento três iniciações que congregam o corpo, a palavra e a mente do lama e do yidam. Portanto, recebemos o poder de meditar de maneira efetiva sobre os "três vajras":
os nadis enquanto corpo-vajra; o prana enquanto palavra-vajra; os thigles enquanto mente-vajra. A iniciação da palavra preciosa ou iniciação oralA quarta iniciação é "a iniciação da palavra preciosa". Ela repousa sobre o princípio de que os nadis, o prana e os thigles, assim como o conjunto dos fenômenos exteriores e interiores, procedem só da mente. Através da quarta iniciação, se é introduzido a esta natureza da mente e se recebe o poder de praticar e realizar o mahamudra.
As iniciaçõesO ingresso na prática do Vajrayana faz-se mediante uma iniciação cuja eficácia requer a realização do mestre que a confere, bem como a confiança e a inteligência do discípulo que a recebe. Essas iniciações podem revestir formas diversas, inscrevendo-se em cerimônias cuja complexidade é muito variável. Durante as iniciações das grandes divindades tântricas, a versão mais comum e mais elaborada da iniciação implicará, por exemplo, a confecção de um mandala composto de areias coloridas. Uma versão de complexidade média utilizará um mandala pintado sobre um tecido, e uma mais simples ainda um mandala feito de pequenos montes de arroz. Enfim, na iniciação que é reduzida ao essencial, o corpo do mestre que a confere, ou ainda uma simples representação mental, são suficientes para simbolizar o mandala.
As quatro etapas de uma iniciaçãoAs iniciações em sua forma mais completa compreende quatro subdivisões chamadas as "quatro iniciações":
iniciação do vaso; iniciação secreta; iniciação de conhecimento-sabedoria; quarta iniciação ou iniciação da palavra preciosa. Formas simplificadas limitam-se à transmissão do corpo, palavra, ou da mente da divindade, ou apenas à iniciação do vaso, mas uma iniciação no sentido pleno do termo implica as quatro subdivisões que acabamos de mencionar. Somente então os samayas desempenham plenamente seu papel e devem, portanto, serem escrupulosamente respeitados, enquanto que a transmissão da graça abre plenamente a porta para as realizações.
Fases preparatóriasO lama encarregado de dar uma iniciação deve, primeiramente, conformando-se ao tantra de referência enunciado pelo Buddha, preparar o mandala que servirá de suporte, seja um mandala de areia, um mandala pintado ou ainda composto de pequenos montes de arroz dispostos simbolicamente sobre uma base. Depois, oficiando sozinho, ele executa uma parte do ritual compreendendo três fases preparatórias:
o da-kye, em que se visualiza sob a forma da divindade; o dun-kye, em que se visualiza divindades no espaço; o dum-kye, em que consagra o vaso da iniciação, visualizando-o como um palácio celeste no qual residem as divindades da iniciação. Finalmente, acrescenta-se uma quarta fase preparatória: ele confere a iniciação a si mesmo (da-juk). Somente após esse procedimento os discípulos que se preparam para receber a iniciação são admitidos no templo.
A iniciação do vasoEm primeiro lugar, o discípulo recebe "a iniciação do vaso", conferida ao corpo, que o introduz na natureza pura dos diferentes componentes de sua personalidade psico-física: os cinco agregados, os cinco elementos, os fatores de percepção, etc. Essa iniciação é dada por meio de objetos rituais simbolizando os cinco Buddhas Patriarcas: coroa, vajra, sino, etc. Por esse processo, as faltas e os véus relacionados ao corpo são dissipados e os componentes da personalidade tornam-se os aspectos puros correspondentes: os cinco Buddhas Patriarcas, os cinco Buddhas femininos, os oito grandes Bodhisattvas masculinos e femininos, etc. Esta iniciação confere o poder de meditar, a partir de então, o próprio corpo sob a forma do corpo da divindade e conduzirá, por último, à realização do corpo de emanação (sânsc. nirmanakaya).
A iniciação secretaA segunda iniciação, "iniciação secreta", conferida à palavra, é transmitida por meio de um álcool consagrado, transformado em ambrósia (tib. dutsi), contido num crânio, e que o discípulo bebe algumas gotas. Esta iniciação purifica as faltas e os véus relacionados à palavra, confere o poder de recitar o mantra da divindade e permite, por último, realizar o corpo de glória (sânsc. sambhogakaya).
A iniciação de conhecimento-sabedoria
A terceira iniciação, "iniciação de conhecimento-sabedoria", conferida à mente, é transmitida por uma "conhecedora" (tib. rikma ), isto é, uma jovem, pintada para as necessidades da cerimônia sobre um pequeno cartão. Esta iniciação purifica as faltas e os véus relacionados ao mental, confere o poder de meditar sobre a união da felicidade e da vacuidade e permite, por último, realizar o corpo absoluto (sânsc. dharmakaya).
A iniciação da palavra preciosaA quarta iniciação, "iniciação da palavra preciosa", não utiliza objetos rituais, mas consiste em uma introdução oral ao modo de ser da mente e de todos os fenômenos. Seu impacto situa-se no nível da simultaneidade: purificação simultânea das faltas e dos véus do corpo, da palavra e da mente. Confere o poder de meditar simultaneamente o próprio corpo como o corpo da divindade; a própria palavra como o mantra; a própria mente como o estado de absorção; e, por último, a realização do próprio corpo de essência (sânsc. svabhvakaya), união dos três outros corpos do Despertar.
Para que uma iniciação tenha um efeito real, é preciso, certamente, que as condições externas estejam reunidas. É preciso também que o lama que a confira, tendo ele mesmo recebido a transmissão de maneira autêntica, execute a cerimônia com exatidão, sem nada acrescentar, nem retirar. Finalmente, é necessário que os discípulos que a recebam tenham uma confiança total no lama, uma certa compreensão do processo e a convicção de sua eficácia. A abordagem dos sutras do mahayana e a abordagem dos tantras do Vajrayana levam ao mesmo resultado, mas em períodos de tempo muito diferentes. Diz-se que pela via dos sutras, o praticante deve praticar durante três "kalpas imensuráveis" antes de atingir o Despertar, enquanto que pela via dos tantras, o limite máximo para obter o mesmo resultado pode chegar a dezesseis existências. Quanto ao limite mínimo, é variável segundo os textos: alguns falam de seis meses, outros de seis ou doze anos, mas de qualquer modo o colocam no quadro da presente existência. Kalu Rinpoche. Ensinamentos Fundamentais do Budismo Tibetano: Budismo Vivo, Budismo Profundo, Budismo Esotérico. Tradução de Célia Gambini, revisão técnica de Antonio Carlos da Ressurreição Xavier. Brasília: Shisil, 1999.
As iniciações — um investimento sagradoA noção de iniciação implica a idéia de outorgar um poder, uma autoridade.
No domínio político, os chefes de Estado, os ministros, ou outras pessoas do Estado ocupam postos de responsabilidade que lhes confere uma certa autoridade. Para que sejam detentores do poder, é preciso inicialmente, entretanto, que eles tenham sido investidos dele, ou seja, segundo as culturas, que tenham sido nomeados, eleitos ou entronizados. Quando se trata, por exemplo, de uma coroação, o futuro rei será colocado num trono em presença de um grande número de dignatários, receberá as diferentes insígnias da realeza e, a partir desse momento, ele se tornará o verdadeiro chefe de seu reino. Somente após essa investidura, dispõe de uma autoridade que lhe permite dirigir, dar ordens e ser obedecido por todos. De modo similar, uma iniciação — incluindo as subdivisões que são a iniciação do vaso, a iniciação secreta, a iniciação do conhecimento-sabedoria e a iniciação oral — confere àquele que a recebe um poder sobre a prática da meditação.
Iniciação do vasoA primeira subdivisão no interior do processo de iniciação é "a iniciação do vaso", conferida ao corpo. Ela implica uma relação com diferentes divindades, principalmente os cinco Buddhas Patriarcas, os cinco Buddhas femininos e diferentes grupos de bodhisattvas masculinos e femininos. Por conta desta relação, ela confere o poder de meditar nos aspectos impuros do indivíduo e do universo sob sua forma pura, que correspondem às divindades, e de realizá-los como tais.
Assim, os cinco agregados — formas, sensações, percepções, volições, consciências — nada mais são do que o reflexo, na pessoa ordinária, dos cinco Buddhas Patriarcas no domínio do Despertar. A iniciação do vaso introduz-se na essência divina dos cinco agregados e conferem-nos o poder de realizá-la com base numa equivalência entre cada agregado e cada Buddha:
formas: Vairochana; sensações: Ratnasambhava; percepções: Amitabha; volições: Amoghasiddhi; consciências: Akshobhya. Da mesma maneira, estabelece-se uma equivalência entre os cinco elementos e sua essência, os cinco Buddhas femininos, aos quais a iniciação serve de introdução:
terra: Buddhalocana; água: Mamaki; fogo: Pandaravasini; ar: Samayatara; espaço: Vajradhatvesvari. Em terceiro lugar, as oito consciências — visual, auditiva, olfativa, gustativa, tátil e mental, às quais se acrescentam a consciência perturbada e o potencial de consciência (sânsc. alayavijnana) — são percebidas como os oito grandes bodhisattvas masculinos, e os objetos das consciências são percebidos como os oito grandes bodhisattvas femininos.
Assim, todos os componentes psico-físicos da pessoa são consagrados enquanto divindades e o discípulo recebe o poder de meditar sobre si mesmo sob a forma do corpo da divindade da iniciação. Este processo constitui "a iniciação do vaso", chamada também "iniciação do corpo" da divindade, em relação aos canais sutis (sânsc. nadis), permitindo atualizar, numa perspectiva última, o corpo de emanação.
Iniciação secretaNos canais sutis do corpo circula a energia sutil (sânsc. prana) que está ligada à palavra e cuja expressão totalmente pura corresponde ao corpo de glória (sânsc. sambhogakaya). Para realizar essa pureza, é conferida "a iniciação secreta", também chamada "iniciação da palavra" da divindade, graças à qual todos os ventos sutis impuros são transformados em ventos puros.
Para efetuar essa purificação, serão utilizados os exercícios sobre os ventos e a recitação de mantras. De fato, com essa iniciação secreta o discípulo recebe o poder de considerar todos os sons como o mantra da divindade. É preciso saber que o corpo é inervado por uma rede de 72 mil nadis, cujos três principais são o canal central e os canais laterais que o ladeiam à direita e à esquerda. A terminação de cada um desses canais apresenta uma configuração associada às trinta consoantes e às dezesseis vogais do alfabeto sânscrito e forma a base a partir da qual a palavra pode funcionar. Quando a iniciação secreta é conferida, é dada portanto, em razão da relação entre ventos sutis, palavra e sambhogakaya, a faculdade de atualizar a palavra-vajra do sambhogakaya.
Iniciação de conhecimento-sabedoriaEm terceiro lugar é conferida à mente do discípulo a iniciação da mente da divindade ou "iniciação de conhecimento-sabedoria". Essa terceira iniciação está ligada aos thigles (sct. bindu) e confere o poder de colocar em ação as técnicas de meditação onde esses thigles são utilizados.
Conseqüentemente, uma vez recebidas a iniciação do vaso, a iniciação secreta e a iniciação de conhecimento-sabedoria, torna-se possível colocar em prática os "seis dharmas de Naropa" — tummo, corpo ilusório, sonho, clara luz, transferência de consciência e bardo — no curso dos quais medita-se sobre os canais, os ventos e os thigles. Isto também abre a possibilidade, em alguns casos, de praticar, no contexto do vajrayana, as técnicas de retenção dos thigles na união sexual.
Para resumir, vimos até o momento três iniciações que congregam o corpo, a palavra e a mente do lama e do yidam. Portanto, recebemos o poder de meditar de maneira efetiva sobre os "três vajras":
os nadis enquanto corpo-vajra; o prana enquanto palavra-vajra; os thigles enquanto mente-vajra. A iniciação da palavra preciosa ou iniciação oralA quarta iniciação é "a iniciação da palavra preciosa". Ela repousa sobre o princípio de que os nadis, o prana e os thigles, assim como o conjunto dos fenômenos exteriores e interiores, procedem só da mente. Através da quarta iniciação, se é introduzido a esta natureza da mente e se recebe o poder de praticar e realizar o mahamudra.
As iniciaçõesO ingresso na prática do Vajrayana faz-se mediante uma iniciação cuja eficácia requer a realização do mestre que a confere, bem como a confiança e a inteligência do discípulo que a recebe. Essas iniciações podem revestir formas diversas, inscrevendo-se em cerimônias cuja complexidade é muito variável. Durante as iniciações das grandes divindades tântricas, a versão mais comum e mais elaborada da iniciação implicará, por exemplo, a confecção de um mandala composto de areias coloridas. Uma versão de complexidade média utilizará um mandala pintado sobre um tecido, e uma mais simples ainda um mandala feito de pequenos montes de arroz. Enfim, na iniciação que é reduzida ao essencial, o corpo do mestre que a confere, ou ainda uma simples representação mental, são suficientes para simbolizar o mandala.
As quatro etapas de uma iniciaçãoAs iniciações em sua forma mais completa compreende quatro subdivisões chamadas as "quatro iniciações":
iniciação do vaso; iniciação secreta; iniciação de conhecimento-sabedoria; quarta iniciação ou iniciação da palavra preciosa. Formas simplificadas limitam-se à transmissão do corpo, palavra, ou da mente da divindade, ou apenas à iniciação do vaso, mas uma iniciação no sentido pleno do termo implica as quatro subdivisões que acabamos de mencionar. Somente então os samayas desempenham plenamente seu papel e devem, portanto, serem escrupulosamente respeitados, enquanto que a transmissão da graça abre plenamente a porta para as realizações.
Fases preparatóriasO lama encarregado de dar uma iniciação deve, primeiramente, conformando-se ao tantra de referência enunciado pelo Buddha, preparar o mandala que servirá de suporte, seja um mandala de areia, um mandala pintado ou ainda composto de pequenos montes de arroz dispostos simbolicamente sobre uma base. Depois, oficiando sozinho, ele executa uma parte do ritual compreendendo três fases preparatórias:
o da-kye, em que se visualiza sob a forma da divindade; o dun-kye, em que se visualiza divindades no espaço; o dum-kye, em que consagra o vaso da iniciação, visualizando-o como um palácio celeste no qual residem as divindades da iniciação. Finalmente, acrescenta-se uma quarta fase preparatória: ele confere a iniciação a si mesmo (da-juk). Somente após esse procedimento os discípulos que se preparam para receber a iniciação são admitidos no templo.
A iniciação do vasoEm primeiro lugar, o discípulo recebe "a iniciação do vaso", conferida ao corpo, que o introduz na natureza pura dos diferentes componentes de sua personalidade psico-física: os cinco agregados, os cinco elementos, os fatores de percepção, etc. Essa iniciação é dada por meio de objetos rituais simbolizando os cinco Buddhas Patriarcas: coroa, vajra, sino, etc. Por esse processo, as faltas e os véus relacionados ao corpo são dissipados e os componentes da personalidade tornam-se os aspectos puros correspondentes: os cinco Buddhas Patriarcas, os cinco Buddhas femininos, os oito grandes Bodhisattvas masculinos e femininos, etc. Esta iniciação confere o poder de meditar, a partir de então, o próprio corpo sob a forma do corpo da divindade e conduzirá, por último, à realização do corpo de emanação (sânsc. nirmanakaya).
A iniciação secretaA segunda iniciação, "iniciação secreta", conferida à palavra, é transmitida por meio de um álcool consagrado, transformado em ambrósia (tib. dutsi), contido num crânio, e que o discípulo bebe algumas gotas. Esta iniciação purifica as faltas e os véus relacionados à palavra, confere o poder de recitar o mantra da divindade e permite, por último, realizar o corpo de glória (sânsc. sambhogakaya).
A iniciação de conhecimento-sabedoria
A terceira iniciação, "iniciação de conhecimento-sabedoria", conferida à mente, é transmitida por uma "conhecedora" (tib. rikma ), isto é, uma jovem, pintada para as necessidades da cerimônia sobre um pequeno cartão. Esta iniciação purifica as faltas e os véus relacionados ao mental, confere o poder de meditar sobre a união da felicidade e da vacuidade e permite, por último, realizar o corpo absoluto (sânsc. dharmakaya).
A iniciação da palavra preciosaA quarta iniciação, "iniciação da palavra preciosa", não utiliza objetos rituais, mas consiste em uma introdução oral ao modo de ser da mente e de todos os fenômenos. Seu impacto situa-se no nível da simultaneidade: purificação simultânea das faltas e dos véus do corpo, da palavra e da mente. Confere o poder de meditar simultaneamente o próprio corpo como o corpo da divindade; a própria palavra como o mantra; a própria mente como o estado de absorção; e, por último, a realização do próprio corpo de essência (sânsc. svabhvakaya), união dos três outros corpos do Despertar.
Para que uma iniciação tenha um efeito real, é preciso, certamente, que as condições externas estejam reunidas. É preciso também que o lama que a confira, tendo ele mesmo recebido a transmissão de maneira autêntica, execute a cerimônia com exatidão, sem nada acrescentar, nem retirar. Finalmente, é necessário que os discípulos que a recebam tenham uma confiança total no lama, uma certa compreensão do processo e a convicção de sua eficácia. A abordagem dos sutras do mahayana e a abordagem dos tantras do Vajrayana levam ao mesmo resultado, mas em períodos de tempo muito diferentes. Diz-se que pela via dos sutras, o praticante deve praticar durante três "kalpas imensuráveis" antes de atingir o Despertar, enquanto que pela via dos tantras, o limite máximo para obter o mesmo resultado pode chegar a dezesseis existências. Quanto ao limite mínimo, é variável segundo os textos: alguns falam de seis meses, outros de seis ou doze anos, mas de qualquer modo o colocam no quadro da presente existência. Kalu Rinpoche. Ensinamentos Fundamentais do Budismo Tibetano: Budismo Vivo, Budismo Profundo, Budismo Esotérico. Tradução de Célia Gambini, revisão técnica de Antonio Carlos da Ressurreição Xavier. Brasília: Shisil, 1999.
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