Capítulo VII : A Perseverança
[36] Ora, ainda não adquiri a prática de uma única parcela de virtude. Que tristeza! Como pude desperdiçar este maravilhoso nascimento humano, tão difícil de obter.
[37] Nada ofereci aos Bhagavans, nem regozijei a Sangha com grandes festas de homenagem, nada fiz pelo Dharma e tão pouco fui capaz de satisfazer a esperança dos pobres.
[38] Aos seres em perigo não garanti segurança, aos que sofrem não ofereci o bem-estar e mesmo no seio da minha mãe não passei de um cravo doloroso.
[39] Nas minhas vidas anteriores, bem como na atual, pouco aspirei ao Dharma; eis a razão de me encontrar em tal infortúnio. Perante tudo isto, quem poderia abdicar da aspiração ao Dharma?
[40] O Buddha declarou que a aspiração é a raiz de todos os méritos; a aspiração tem por raiz a meditação constante sobre os frutos dos nossos atos.
[41] Dores físicas, dores mentais, perigos de todo o gênero, enfim, a ruína de tudo o que desejam, é o que espera os malfeitores.
[42] O desejo de fazer o bem que cumprem as pessoas virtuosas será, graças aos seus méritos, honrado em todos os lugares pelos frutos da virtude.
[43] O desejo da felicidade, que é formulado pelos malfeitores, será, em conseqüência da sua falta de mérito, despedaçado em todos os lugares pelos laivos da dor.
[44] Os Bodhisattvas, graças às suas boas obras, surgem na mente de grandes flores de lótus perfumadas e frescas, desenvolvem o seu corpo brilhante como alimento que lhes é dado pela palavra harmoniosa dos Jinas e, finalmente, emergem de seus cálices abertos, desabrochando à luz dos raios do Buddha e nascem supremamente formoso sob o seu olhar.
[45] O miserável, no seguimento das suas faltas, esfolado pelos servidores da morte, o corpo regado de cobre fundido ao calor do fogo e a carne lacerada por centenas de golpes de lanças e de espadas inflamadas, cai e volta a cair nos infernos pavimentados de ferro em brasa.
[46] Por isso, pratiquemos a aspiração ao bem. Depois de a ter claramente desenvolvido, devemo-nos entregar ao cultivo da confiança em si, segundo o método do Discurso do Estandarte Adamantino.
[47] Verifiquemos, primeiro, a nossa força, depois lancemo-nos à obra ou não, pois mais vale abster-se que renunciar ao que foi começado.
[48] Senão, recomeçaremos nas vidas seguintes, o sofrimento sempre crescendo pelo mal agir, e mesmo qualquer ação que se complete apenas dará frutos incompletos e de pouca valia.
[49] A confiança em si aplica-se a três coisas: à ação, às emoções negativas e ao poder. "Agirei só!" — eis a confiança em si na ação.
[50] Dominado pelas emoções negativas, o mundo é incapaz de alcançar por si a sua salvação. Cabe-me, pois, a mim realizá-la por ele, pois não sou impotente como o mundo.
[51] Alguém faz um humilde serviço e eu fico para aqui sem fazer nada! Se é o orgulho que me impede de ajudar, morra então o orgulho!
[52] O corvo comporta-se como a águia perante uma serpente morta. A menor tentação abater-me-á se a minha mente fraquejar.
[53] Para quem fica inativo por desencorajamento, não tem fim a sua fraqueza. Quem for enérgico e confiante será capaz de enfrentar as maiores dificuldades.
[54] Por isso eu quero, com a mente firme, realizar a perda da minha perda. Querer conquistar o universo é ridículo se cedo aos atos negativos.
[55] Tenho de ser o vencedor de tudo sem ser vencido por nada. Esta é a força altiva que se deve levantar em mim, pois sou o filho dos leões, dos Jinas!
[56] Os homens vencidos pelo orgulho são uns covardes e não uns verdadeiros orgulhosos; o homem orgulhoso não se rende ao seu inimigo e esses aceitam o jugo do seu inimigo, o orgulho.
[57-58] O orgulho leva-os às condições lastimáveis e mesmo na condição humana vivem sem alegria, vão comendo o que lhes é dado por esmola; são escravos, tolos, feios e fracos, desprezados por todos, pobres diabos paralisados pelo orgulho. Se são esses os homens que se contam entre os orgulhosos, querem-me dizer quem são os desprezíveis?
[59] Os que põem o seu orgulho no vencer deste inimigo que é o orgulho são altivos, vitoriosos e heróicos. Tendo esmagado o orgulho, esse inimigo que tudo invade, realizam o fruto da sua vitória e satisfazem os desejos dos seres.
[60] Lançado no meio do bando das emoções negativas, que seja mil vezes mais forte do que elas, invencível entre as emoções negativas como o leão entre as gazelas.
[61] No auge do perigo protegemos os olhos. Também o Bodhisattva, apanhado entre duras provas, não cede às emoções negativas.
[62] Que eu seja queimado ou morto, que a minha cabeça caia! Nunca me inclinarei perante o meu inimigo, as emoções negativas! Seja qual for a circunstância, apenas realizarei o bem!
[63] A atividade em que se empenhe dá-se com todas as suas forças, entrega-se apaixonadamente com uma mente insaciável, como um jogador devorado pelo desejo de ganhar.
[64] Todas as ações, trazendo-a ou não, têm por finalidade a felicidade. Mas para quem a felicidade consiste na própria ação, como poderá estar feliz se não age?
[65] Nunca nos cansamos dos prazeres do mundo, semelhantes ao mel sobre o fio de uma navalha. Como nos poderíamos dar por saciados do néctar das boas obras, que amadurece em frutos de pacífica doçura?
[66] Por isso, terminada uma ação que logo salte para outra, como o elefante escaldado pelo calor do meio-dia mergulha no primeiro lago que encontra.
[67] Se a sua força se esgota, que renuncie provisoriamente ao agir. Quando a obra está perfeita, que a deixe de lado, já na impaciência da que sucede.
[68] Que fique em guarda contra os assaltos das emoções negativas e pronto a contra-atacar vigorosamente, como quem esgrima com um hábil adversário.
[69] Da mesma maneira que num combate, quando a espada cai, rapidamente a apanha, com receio, quando perde a espada da atenção, que seja prestes a retomá-la, lembrando-se dos infernos.
[70] Como o veneno que, penetrando o sangue, se espalha no corpo, o vício, se encontra uma fissura, expande-se na mente.
[71] Como quem carrega entre espadachins um vaso repleto de óleo, ameaçado de morte ao mais pequeno gesto em falso, concentra a sua atenção, assim caminha quem se dirige para a perfeição.
[72] E como um homem que sente uma serpente no peito se levanta num ápice, assim reage prestemente o praticante ao aproximar da sonolência e da indolência.
[73] Arrependendo-se a cada falha, deve pensar: "Como hei de fazer para que isto não me volte a acontecer?"
[74] Compreendendo a importância da atenção em todas as circunstâncias, que haja uma aspiração a exercê-la e que, para tal, se procure a companhia dos sábios.
[75] Antes de agir, a fim de estarmos prontos para qualquer ocorrência, é bom relembrar os ensinamentos sobre a aplicação; depois então, devemo-nos lançar alegremente na ação.
[76] Como um floco de algodão obedece ao vaivém do vento, deixemo-nos conduzir pela perseverança; é assim que se atinge a finalidade!
Fonte : www.dharmanet.com.br
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